Um homem de 55 anos, acusado de estupro de vulnerável, cárcere privado, maus-tratos e agressões físicas e psicológicas contra a própria enteada, foi preso nesta terça-feira (17) no centro de Gramado, no Rio Grande do Sul. A captura foi resultado de uma ação conjunta entre a Polícia Militar de Santa Catarina e a Brigada Militar gaúcha.
O suspeito estava foragido desde janeiro e foi localizado dentro de um veículo Voyage com placas de Tijucas. Após a prisão, será encaminhado ao sistema prisional de Santa Catarina, onde ficará à disposição da Justiça. A mãe da vítima, professora da educação infantil, também foi presa por omitir e facilitar os crimes cometidos pelo companheiro contra sua própria filha.
A mulher, presa anteriormente em Canelinha com mandado expedido pela comarca de Tijucas, acumula passagens por diferentes cargos públicos na área da Educação Infantil. Em 2023, foi aprovada em concurso da Prefeitura de Tijucas e convocada oficialmente em fevereiro de 2025 para atuar em uma creche do município. Antes disso, havia atuado em Canelinha após ser aprovada em concurso estadual em 2014. Mais recentemente, foi contratada temporariamente em Nova Trento, em fevereiro deste ano, para substituir uma servidora afastada. Ela foi encaminhada ao presídio feminino de Itajaí.
Os crimes ocorreram ao longo de quase dez anos em várias cidades catarinenses, como Tijucas, São João Batista e Biguaçu, além de um período no próprio Rio Grande do Sul.
Segundo o Ministério Público, os abusos começaram quando a menina tinha apenas quatro anos e se repetiram por quase uma década. As investigações indicam que a mãe tinha conhecimento dos crimes e, ao invés de impedir, teria acobertado os abusos e, em algumas ocasiões, facilitado as agressões.
A denúncia veio à tona no início de 2025, quando a adolescente relatou os abusos à avó paterna. Provas como um diário escrito pela vítima, exames médicos e laudos psicológicos fortaleceram o pedido de prisão feito pelo Ministério Público.
"Essa menina não merece viver mais nem um segundo de sua vida com medo", declarou a promotora responsável pelo caso, ressaltando a gravidade da situação.
O caso mobiliza as autoridades de todas as cidades por onde o casal passou: São João Batista, Tijucas, Biguaçu, Nova Trento e até mesmo o interior do Rio Grande do Sul. Em todas as localidades, a rotina era marcada por mudanças constantes e sinais de violência que foram sistematicamente ignorados.
Segundo a apuração, o homem teria cometido crimes semelhantes contra outras meninas, aumentando o temor de que pudesse continuar fazendo vítimas durante o período em que esteve foragido.
No início, a menina tentou pedir ajuda e procurou apoio, mas foi ignorada. A mãe sabia dos abusos e nada fez para impedir. A cada mudança de cidade, o padrão de violência se repetia.
O quarto se tornou cenário do medo, com luzes apagadas, portas trancadas e a certeza de que ninguém viria socorrer. A vítima relatou que era abusada quase todos os dias, por anos. Em Biguaçu, a situação se tornou ainda mais grave quando a mãe a deixou sozinha com o agressor por dias, obrigando-a a conviver trancada na casa com ele.
Além dos abusos sexuais, a menina sofria punições físicas com cintos, fios e varas por qualquer resistência. A alimentação era negada como castigo, e o mesmo corpo ferido era explorado pelo agressor.
Trancada sozinha, a adolescente decidiu reagir e ligou para a avó paterna. Pela primeira vez, foi ouvida e levada ao hospital. O exame médico confirmou os relatos da jovem, que também entregou um caderno com relatos escritos à mão.
Cada página do diário detalhava aquilo que ninguém quis enxergar durante anos: datas, lugares e sensações. Um grito silencioso por socorro que finalmente foi ouvido pelas autoridades.
As prisões foram decretadas para garantir a segurança da vítima, hoje uma adolescente que ainda lida com as sequelas psicológicas do trauma vivido. Para o Ministério Público, manter os suspeitos em liberdade representaria risco concreto de novas ameaças.
O caso segue sob sigilo, em respeito à vítima menor de idade. Após quase dez anos de terror, a jovem pode finalmente dormir sem medo, sabendo que seus agressores estão presos e que sua história foi ouvida e levada a sério pelas autoridades.