O ano era 2000. O Brusque tomou 8 a 0 do Tubarão no Estádio Aníbal Costa, em jogo transmitido para todo o Estado pela televisão. Eu estava lá. Aquele time era ruim mesmo: na semana anterior tinha tomado de 6 do Criciúma e era uma nau à deriva. A goleada era, de certa forma, esperada. O mesmo não dá pra dizer deste 28 de novembro de 2020: o time era líder da terceira divisão nacional e tomou gols de fim de pelada do eliminado Volta Redonda. Um 8 a 1 que vai pra história como o maior vexame do Brusque FC dentro de casa em seus 33 anos de história
Você não leu errado: gol de fim de pelada, quando a turma tá de saco cheio, louco pra ir pra cerveja e espera acabar o tempo pra sair do campo. Não há explicação técnica. Jogador profissional não falha em marcação desse jeito. Jogador profissional não falha em posição desse jeito. Jogador profissional não deixa espaço desse jeito. Algo aconteceu.
Vamos voltar um pouco no tempo: quinta-feira a diretoria reuniu a imprensa por mais de duas horas pra querer dar bronca: disse que a imprensa "rema pra trás", que as informações postadas são inverídicas e que tudo estava certo no clube. Outras duas informações foram importantes, guarde-as: primeiro, que iria acontecer uma reunião de cobrança do elenco. E segundo, que o diretor do futebol chegou a cobrar individualmente de alguns jogadores problemas de extra-campo. Ou seja, estava escancarado o problema. E as vezes isso não é bom por dois motivos: primeiro, que deixaram chegar a um estágio crítico que poderia ter sido evitado lá atrás. Segundo, expuseram o problema.
Apesar de não concordar com o ponto de vista do presidente, vamos aqui levantar a bandeira branca e deixar de lado o episódio campanha eleitoral. Houveram problemas sim que não vem ao caso ficar aqui remexendo. Discordo de alguns pontos ponderados, mas a eleição passou, o presidente tomou uma opção errada, perdeu, e vida que segue.
O que se viu nesta tarde de sábado esteve longe de ser o que aconteceu, por exemplo, no 7 a 1 da Alemanha, que eu considero um jogo atípico onde menos de 10 minutos de apagão formaram a tragédia. No Augusto Bauer, a tragédia foi no jogo todo. Começou com um frango do goleiro Ruan, passando por erros de marcação em jogadas de "1-2", apatia nos acompanhamentos e nenhuma tentativa de intensidade do jogo. Sim, o Volta Redonda ganhou em ritmo de treino e poderia ter feito mais. Não tem explicação tática que tente justificar o placar. Quem puder ver o jogo de novo observe um detalhe: o único jogador que transparecia estar "puto" com a situação era o lateral Edilson. Em dado momento, numa parada técnica, é possível ver que ele ameaçava até "ir pra cima" de um companheiro. O técnico Jerson Testoni também esbravejava. Mas ele não escapa ileso: demorou demais pra mudar o time enquanto via a vaca deitar.
Se o time não quer classificar, então entrega para o Criciúma, deseja Feliz Natal e volta em janeiro pro Estadual. O time vai perder mais um jogador nesta semana (Alex Sandro) e a reposição é uma incógnita. O clube não se preocupou com o time como um todo, não controlou tensão de grupo e a conta veio. E não foi por falta de aviso: em setembro não só eu, bem como bravos colegas da imprensa já vinham avisando que o time ia caindo de produção. A resposta? culpa da imprensa que rema pra trás. Cinco jogos sem vitória (agora seis), e a culpa era de quem? Pois é. Nem tudo é o mar de flores que a emissora pela internet criada pelo clube pra falar bem prega. Aliás, até pararam de divulgar nos bastidores os papos do vestiário. Estou curioso pra saber qual foi o papo depois da partida.
O campeonato segue, e o Brusque irá a Criciúma precisando de resultado para se classificar em uma partida que pode até significar um rebaixamento histórico para o Tigre, que tem bem mais dinheiro que o Brusque, mas conta com uma diretoria que conhece patavina de futebol. A classificação ainda é bem provável, mas a confiança do torcedor tá lá no chão. Afinal, o que aconteceu em campo nesta tarde de sábado nunca será esquecido. Não foi só um jogo de futebol. Me pareceu mais um protesto. Quem viu esse time derrubar time de Série A em casa e chegar no vice-campeonato estadual sabe que esse grupo não é capaz de cometer erros tão infantis. É necessário que quem manda no clube ache as respostas e procure as soluções. Se quiser, nem precisa falar pra gente. Mas que mostre atitude. Se o time não conseguir o acesso mostrando que está lutando, caberá a nós lamentar e aceitar. Mas o torcedor do Brusque não merece ser achincalhado como foi hoje.
E pra terminar, uma reflexão: jornalista de verdade busca respostas para questões intrigantes, está ali para questionar, para ver o que está errado e perguntar por soluções. E quando questiona, tem base pra isso, não joga uma pergunta sem ter um argumento. Ele não joga bola e não foi o responsável pelo 8 a 1. Se quiser só ouvir quem fale bem, bota na TV do clube. Afinal, o clube paga salário pra eles afagarem o seu ego.