Antes de tudo, aqui quem escreve é um Brusquense. Nascido na "Maternidade", que é como o nativo chama o antigo Hospital Evangélico, no centro da cidade. Assim como eu, milhares de brusquenses de berço ou de coração temos braços abertos e despidos de qualquer tipo de preconceito. Nossa cidade já conviveu com episódios graves no passado, envolvendo centenas de famílias que migraram pra cá atrás de oportunidade e encontraram aqui as portas abertas para começarem ou recomeçarem as suas vidas. Isso foi superado.
Mas o acontecido em um jogo de futebol, e principalmente o desenrolar disso, tá colocando a cidade, e colocando nós, os brusquenses, em xeque. A falta de tino, a falta de gestão de crise, a falta de uma comunicação profissional do principal clube da cidade, que pela primeira vez disputa a Serie B do campeonato brasileiro, vai trazer impactos imediatos para o clube e a cidade. O Brusque Futebol Clube vai deixar de ser querido por muitos para cair na perigosa vala do preconceito, fruto de uma nota absolutamente ridícula publicada em seus canais.
O Brusque leva um monte de gente pra arquibancada que se comporta como torcedor mesmo. Grita e xinga a todo tempo. Já no intervalo do jogo contra o Londrina, o quarto árbitro estava anotando o berreiro e observando quem tava lá (injustificado, pois o time não tava jogando nada). Como transmiti o jogo e estava usando fone de ouvido, não ouvi nenhuma ofensa. Mas acabo de ouvir de um colega que, realmente, um dirigente do clube usou o termo "cachopa de abelha" para Celsinho. Ele ouviu.
O clube, se tivesse um bom comando, comunicação profissional e uma boa gestão de crise, reconheceria o erro, pediria desculpa e anunciaria uma punição ou reprimenda para o autor da frase. Foi pro caminho contrário: preferiu acusar e xingar. Pior: ainda chamou Celsinho de oportunista, disse que ele era "reincidente" em outros casos similares, e isso seria motivo pra desclassificar a denuncia. Oi? O racismo não é só chamar de "macaco". Ninguém escolhe ser ofendido. Uma denuncia de racismo não é simplesmente "ser envolvido nesse tipo de caso".
Não é a primeira vez que o Brusque se "defende atacando". Durante a Série C, um funcionário foi até uma live afirmar que a imprensa recebia do clube para cobrir os jogos. Mentira descabida que acabou numa retratação bem tímida. Fizemos uma reunião com o presidente, ele pediu desculpas, acertamos uns pontos, recebemos promessas na época de melhor relacionamento e seguimos.
Os jogadores do Brusque, que não tem nada a ver com isso, estão nas redes sociais colocando mensagens anti-racismo, fazendo o que o comando do clube deveria fazer. Merecem ser parabenizados por isso.
Essa nota oficial vai para a história, do pior jeito possível. Uma aula de como não se administrar uma crise, sendo sujo e ainda reconhecendo a injúria racial. O autor desse texto conseguiu a proeza de trazer uma onda de ódio para o clube e a cidade que vai levar muito tempo e trabalho para um dia ser dissolvida.
Quem sabe um dia eu possa encontrar o Celsinho e dizer pra ele que os "bruxquenses" não são isso que o autor dessa nota repugnante pintou. O Brusque não se tocou ainda que está na Série B. Trabalha sua imagem muito mal. Trata a imprensa como inimiga, divulgando materiais do clube quando quer, e com um atraso enorme. O vídeo com a coletiva do técnico Jerson Testoni do jogo com o Londrina chegou 24 horas depois da partida para a imprensa.
Pior é que o clube ainda acha que tá certo com a sua conduta durante os jogos. Que Deus ponha a mão na cabeça deles.
Uma página triste na ainda jovem história do Brusque. Eu, que vi o clube nascer, termino o domingo com uma mistura de raiva e tristeza. E ainda estão achando que tem razão.
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